sábado, 8 de agosto de 2009



Projecto Fénix

prevenir e combater o insucesso
no ensino básico


Um maior apoio aos alunos com mais dificuldades, em cada ano de escolaridade, com reforço do trabalho nas disciplinas essenciais, como Língua Portuguesa e Matemática, é a resposta encontrada pelo Agrupamento de Beiriz, com monitorização da Universidade Católica do Porto, para prevenir e combater o insucesso escolar no ensino básico.


“Agora não desisto!”, exclama Cristiana, de 14 anos, com determinação, enquanto olha para o quadro na aula de Matemática.

“Os professores estão sempre ao nosso lado e dão-nos força”, explica esta aluna do 6.º ano do Agrupamento de Escolas de Beiriz, na Póvoa de Varzim.

“Este ano, até gosto mais da professora…”, confessa Maria João, de 13 anos, ao seu lado, com um sorriso.

Mas então o que marca a diferença para que estas duas alunas tenham uma atitude diferente na sala de aula, do ano passado para este ano?

A integração numa Turma Fénix foi a solução encontrada pela escola para dar resposta ao insucesso escolar, recuperando os estudantes e evitando as retenções no ensino básico.

Em articulação com a Universidade Católica do Porto, a escola concebeu um modelo organizacional que foi posto em prática, pela primeira vez, neste ano lectivo.

De acordo com este modelo organizacional, são criadas duas Turmas Fénix para cada ano de escolaridade dos 2.º e 3.º ciclos, nas quais são incluídos os alunos com maiores dificuldades ao nível da aprendizagem.

Para estas turmas, são definidas três disciplinas a ter intervenção: Língua Portuguesa e Matemática para todas as turmas, e uma terceira disciplina a ser seleccionada de acordo com as necessidades dos alunos, como, por exemplo, Inglês ou Físico-Química.

Os alunos que tenham mais dificuldades nestas disciplinas são apoiados, de acordo com o seu nível de conhecimentos, nos grupos de pequena dimensão Ninho 1 e Ninho 2.

Se progredirem nas aprendizagens, passam a permanecer na Turma Fénix e, se a melhoria for significativa, podem mesmo transitar para outra turma do mesmo ano de escolaridade.

Os alunos com um melhor desempenho a nível escolar também são contemplados no Projecto Fénix, através da criação de um Ninho de Excelência, que será desenvolvido de uma forma mais sistemática no futuro, de acordo com a mesma metodologia utilizada para os outros Ninhos, neste caso destinada a promover uma aprendizagem mais célere nos estudantes que têm condições para avançar além do que seria expectável para o seu ano de escolaridade.


Turma Fénix:
a “batalha” dos professores para que os alunos aprendam


Integrada na Turma Fénix, Cristiana explica que, no ano anterior, desistia de aprender quando “olhava para o quadro e não percebia nada”.

Neste ano, a aluna sente que conta com o apoio dos professores para “continuar a tentar” compreender a matéria.

“Percebo muito melhor, porque damos a matéria mais devagar. Os professores dão-nos mais incentivo e fazemos mais fichas.”

Já Maria João não desarma quando confrontada com o porquê de gostar mais da professora de Matemática se esta, afinal, é a mesma do ano anterior: “No ano passado, não gostava que a professora não tivesse tempo para me ajudar. Neste ano, a professora tem tempo para estar à minha beira, para me esclarecer e não me deixar ir abaixo.”

Elisabete Fonseca, a docente de quem a aluna neste ano gosta mais, sorri perante esta comparação e admite que também está mais satisfeita com o trabalho realizado com esta turma de 12 jovens.

“No ano passado, estes alunos tinham negativa, e eu não conseguia chegar a todos, não tinha capacidade para lhes dar o apoio necessário. Neste ano, sinto que consigo chegar a todos e esclarecer as dúvidas no momento certo”, justifica esta professora, que assegura a coordenação da disciplina de Matemática do Projecto Fénix ao nível do 3.º ciclo.

A trabalhar com os alunos as funções, nomeadamente a interpretação e a análise de gráficos associados a contextos do quotidiano, a professora salienta as vantagens da Turma Fénix: “Permite insistir em conceitos que não tinham sido interiorizados e colmatar as lacunas em tempo útil, para que os alunos possam compreender a matéria a trabalhar neste ano de escolaridade.”

Mas, tal como faz questão de salientar, o facto de o ritmo de trabalho poder ser mais lento não põe em causa a aquisição de competências básicas: “O objectivo é que os alunos, quando chegarem ao exame nacional, tenham atingido as competências essenciais para passarem com sucesso, não transitando cortados a nenhuma disciplina.”

Bruno, de 13 anos, parece disposto a aceitar o desafio: “Neste ano, aprendemos melhor e, se tivermos dificuldades, temos mais atenção. A professora está mais perto de nós, explica-nos melhor a matéria e, se não percebermos de uma maneira, arranja outra para nos fazer entender.”

“Nós antes tirávamos negativa e agora já temos positiva”, faz questão de destacar Tatiana, também com 13 anos.

“No ano passado, éramos 27 na turma, e os professores não tinham tempo. Neste ano, os professores até parecem diferentes, têm mais tempo e nós não saímos daqui sem aprender!”

Se, nas palavras da própria, a aluna não sai da aula sem aprender, a professora também não se conforma se não conseguir ensinar.

“Esta é uma batalha para nós!”, refere Elisabete Fonseca, antes de intimidar com um sorriso que desmente qualquer ameaça: “Ai deles que não me correspondam!”


Ninhos: uma metodologia que permite dar atenção a todos os alunos

Noutras duas salas, à mesma hora, dois grupos de alunos do 8.º ano também estão a ter a disciplina de Matemática.

Nestes dois grupos de alunos, de pequena dimensão, retirados das duas Turmas Fénix existentes neste ano de escolaridade, estão os jovens que necessitam de um apoio reforçado na disciplina.

No grupo denominado Ninho 1, estão os alunos que apresentam maiores dificuldades, enquanto no grupo intitulado Ninho 2 estão os estudantes que, embora com bastantes dificuldades, estão num nível superior aos do grupo anterior, mas inferior aos das Turmas Fénix.

A rotação de alunos entre os Ninhos e a Turma Fénix é dinâmica e flexível, tal como explica Flávio, de 13 anos, neste momento integrado no Ninho 1 de Matemática: “Já estive no Ninho 1, depois fui para a turma e agora voltei para aqui.” Quando questionado sobre o porquê do regresso para o Ninho 1, esclarece, de forma objectiva e clara: “Depende das matérias. Há matérias mais difíceis em que preciso de mais ajuda. Depois, se tiver bons resultados no Ninho, posso passar para a turma.”

Quanto aos benefícios desta nova organização da escola, Flávio não hesita: “Dá para esclarecer melhor as dúvidas, porque há menos alunos. Se não percebermos, a professora insiste sempre até percebermos.”

Mas há outro motivo para a melhoria na aprendizagem, confessa este aluno, com um sorriso maroto: “Aqui a professora não nos deixa brincar. Como somos poucos, está sempre atenta!”

“Não dá para brincar”, concorda Daniel, sentado ao lado de Flávio.

“Se a turma tiver mais gente, tem-se mais possibilidades de estar distraído”, admite, antes de reconhecer outras vantagens aos grupos de reduzida dimensão.

“Como é um grupo pequeno, a professora pode explicar mais tempo a um aluno.”

“A professora explica mais perto e, quando o aluno tem dúvidas, explica de maneira a que compreenda e está mais tempo a fazer exercícios”, salienta Miguel, intervindo na conversa.

“Enquanto não percebermos, a professora não avança. Insiste até entendermos”, reforça Cátia, de 15 anos, que já vê resultados positivos.

“No ano passado não percebia, sentia mais dificuldades, e as notas eram um bocado baixas. Neste ano, as notas estão melhor: tive um médio e depois 47 por cento.”

Sofia Carvalho, professora de Matemática do Ninho 1, refere que o trabalho “está a ser muito compensador”, pois “é sempre bom ver os alunos com dificuldades a conseguir superá-las”.

Como se trabalha com menos alunos, “é mais fácil dar atenção a todos. É um trabalho mais individualizado, que permite perceber as dificuldades de cada aluno e arranjar estratégias diversificadas para ir ao encontro dos problemas”.

Devido a esse trabalho mais individualizado e à diversificação das metodologias, já se estão a ver resultados, tal como salienta a professora: “Têm-se visto melhorias. Os alunos estão a superar as suas dificuldades, e nós sentimo-nos orgulhosos: é bom para os alunos e para os professores também.”


Uma solução para combater o insucesso escolar nos 2.º e 3.º ciclos

A concepção desta metodologia de trabalho coube a Luísa Tavares Moreira (na foto), presidente do conselho executivo do Agrupamento de Beiriz, com o suporte da Universidade Católica do Porto, que tem acompanhado e monitorizado o projecto, desde o início.

Presidente do conselho executivo há 10 anos, sempre se preocupou em proporcionar aos professores as melhores condições de trabalho possíveis para que conseguissem concretizar as aprendizagens dos alunos.

Verificando que, para os docentes, é difícil dar resposta a todos os alunos, ao mesmo tempo, àqueles que aprendem a um ritmo mais lento e àqueles que avançam nas aprendizagens com maior rapidez, Luísa Tavares Moreira andava, desde há dois anos, a ensaiar soluções para lidar com a questão da heterogeneidade numa escola frequentada por todo o tipo de alunos.

Há dois anos, tinha sido ensaiada uma experiência no 1.º ciclo centrada na criação de Ninhos para os alunos com maiores dificuldades, que terminou no fim do ano por falta de recursos humanos.

Da avaliação do trabalho realizado, foi salientado o agrado dos professores pela forma de trabalhar e o facto de constatarem que os alunos transitaram para o 5.º ano mais bem preparados.

No ano lectivo anterior, tinham sido criadas na escola turmas de nível para os alunos com maiores dificuldades, que funcionavam com assessorias, ou seja, com mais um ou dois professores dentro da sala de aula.

No entanto, no final do ano, no momento da avaliação, os professores acharam que através desta metodologia não tinham obtido os resultados pretendidos.

“O objectivo da escola é combater a repetência, o insucesso e o abandono escolares, para que todos os alunos cumpram a escolaridade obrigatória, passando a todas as disciplinas, nomeadamente àquelas que servem de base a todas as outras, como é o caso da Língua Portuguesa e da Matemática”, diz a presidente do conselho executivo.

Mas o fundamental, segundo afirma, é fazer com que “o sucesso seja real, correspondendo a saberes estruturantes adquiridos”.


Apostar na prevenção do insucesso desde o 1.º ciclo

Para os alunos do 1.º ciclo, foi adoptada uma metodologia com os mesmos princípios, mas adaptada às especificidades deste nível de ensino.

Em cada turma, são identificados os alunos que apresentam maiores dificuldades, e estes são apoiados, durante uma parte do dia, em pequenos grupos denominados Ninhos, onde têm um reforço nas áreas da Língua Portuguesa e da Matemática.

Na outra parte do dia, os alunos estão integrados na sua turma, onde realizam as actividades com os colegas e o professor.

“O grande objectivo é apostar, antes de tudo o mais, na prevenção do insucesso, resolvendo o problema da transição do 1.º para o 2.º ciclo. Neste sentido, é essencial assegurar um 1.º ciclo com os saberes consolidados e as competências básicas adquiridas”, justifica Luísa Tavares Moreira.

Armando Costa, coordenador do 1.º ciclo, vê esta metodologia como “uma boa aposta”, que considera a “melhor solução” de entre as que a escola tem encontrado.

“O investimento deve começar neste nível de escolaridade, pois é aqui que principiam os problemas. Se estes forem detectados logo no início, os alunos chegam ao 2.º ciclo em melhores condições.”

Os alunos do 4.º ano que estão a ser apoiados no Ninho demonstram gostar desta forma de trabalhar.

“Gosto, porque há mais silêncio”, diz Fábio, de 10 anos.

“Trabalhamos melhor”, afirma Alexandra, da mesma idade.

“Conseguimos pensar nas coisas e estamos a aprender melhor Matemática e Língua Portuguesa”, refere Fernando.

Para esse facto, Alexandra tem uma explicação pronta: “Temos mais explicações de como se faz.”

Anabela Santos, professora do 1.º ciclo destacada para dar poio aos Ninhos dos 1.º e 4.º anos, revela-se satisfeita com o trabalho que está a realizar: “Como o grupo é pequeno, consigo dar mais atenção a todas as crianças e conhecê-las melhor. Muitas delas têm a auto-estima em baixo e dizem que não são capazes, mas eu repito as vezes que forem necessárias, dou-lhes reforço positivo, e elas verificam que, afinal, conseguem fazer os exercícios.”


Universidade Católica do Porto dá segurança e formação

Para trabalharem de acordo com esta forma de organização pedagógica e estarem a obter estes resultados, os professores necessitaram de apoio, de segurança e de formação.

Para dar a confiança necessária aos docentes, tem sido fundamental o acompanhamento do projecto por parte da Universidade Católica do Porto.

José Matias Alves, coordenador do Serviço de Apoio à Melhoria das Escolas, da Universidade Católica do Porto, explica como se desencadeou o processo: “A partir de uma ideia-base da escola, foi desenvolvido um trabalho em interacção com a universidade para chegar ao modelo organizacional proposto.”

O papel da universidade consistiu, segundo José Matias Alves, na construção, com a escola, de um modelo organizacional que se pensa ser promotor do sucesso escolar, bem como na monitorização e na avaliação do desenvolvimento desse dispositivo.

“A universidade surge como uma entidade externa que tem outro olhar sobre as práticas, que lhe permite lançar outros juízos, dar segurança aos professores e conferir credibilidade ao projecto perante a comunidade educativa.”

Para aferir os resultados desta metodologia, vai ser fundamental a avaliação do trabalho realizado, para a qual a universidade já tem um dispositivo montado, mas, segundo o investigador, “neste momento, através de um estreito acompanhamento no terreno, junto dos professores e dos alunos, já é possível afirmar que existem evidências de que é um bom projecto”.

O papel da Universidade Católica do Porto foi fundamental desde o princípio do projecto, quando foi necessário reunir com os coordenadores de departamento, antes do início do ano lectivo, para apresentar a proposta.

A seguir, realizou-se um conselho pedagógico aberto, extensível a todos os professores e funcionários da escola, no qual o projecto foi apresentado à comunidade educativa.

A apresentação do projecto aos pais foi o passo seguinte, concretizado através de reuniões com os encarregados de educação, convocados por ciclos de escolaridade.

“Os pais reagiram bem, percebendo que os filhos iam ter mais apoio nas aprendizagens e que, se recuperassem, poderiam transitar para outra turma”, refere Luísa Tavares Moreira.

Para José Matias Alves, o facto de os pais saberem que a universidade está presente e que acompanha com regularidade o trabalho desenvolvido no terreno dá segurança e confiança, o que, na sua opinião, “é um dos segredos para que os projectos tenham sucesso”.

Para colocar em prática um projecto que implica quatro turmas a funcionar em simultâneo, foi necessário resolver a questão da gestão dos espaços e dos recursos humanos, o que, como explica a presidente do conselho executivo, foi possível recorrendo às horas do crédito global da escola e negociando com os professores horas da componente não lectiva.

A partir desse momento, a Universidade Católica do Porto colaborou na formação dos docentes envolvidos no projecto, através da realização de seminários, a partir de Setembro, e de reuniões de balanço, ao longo do ano lectivo.


Intervenientes no Projecto Fénix

Conselho executivo – Luísa Tavares Moreira, presidente do conselho executivo há 10 anos, é a grande responsável pela concepção do Projecto Fénix, contando com o apoio da Universidade Católica do Porto.

Coordenação do 1.º ciclo – Armando Costa, coordenador do 1.º ciclo, é responsável pela organização do Projecto Fénix, neste nível de escolaridade.

Serviço de psicologia – Daniela Barbosa, psicóloga, estabelece colaboração com as instituições necessárias, aposta na mediação familiar e promove actividades de orientação vocacional.

Serviço de assistência social – Ana Marques, assistente social, assegura um serviço com duas vertentes: uma de acompanhamento em sala de aula, na realização de projectos de trabalho e na mediação de conflitos; outra de acompanhamento em gabinete, em actividades de apoio ao estudo. Estabelece coordenação com as instituições necessárias e realiza mediação familiar.

Expressão Dramática – Sónia Pereira, professora de Expressão Dramática, lecciona duas aulas de Expressão Dramática (uma de 90 minutos e outra de 45 minutos) por semana aos alunos das Turmas Fénix, durante as quais se trabalha a expressão corporal, a voz, as emoções, as capacidades comunicativas e o texto ao nível da Língua Portuguesa.

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