segunda-feira, 12 de abril de 2010


Educação Sexual nas escolas - Propostas de casos práticos
Enviado por Sábado, Abril 10 @ 00:07:51 CEST por Amaral

EducaçãoO 14º Congresso Educação Hoje, promovido pela Texto Editores, decorreu no dia 20 de Março. A sessão de abertura esteve a cargo de Rita Oliveira, representante desta editora, e de Daniel Sampaio, Médico Psiquiatra e Professor Catedrático, que presidiu ao congresso. Odistrito de Setúbal esteve representado neste congresso por duas escolas, que apresentaram os seus projectos e práticas.

Paula Peralta é professora e coordenadora do Gabinete de Atendimento aos Jovens da EB 2.3/S Lima de Freitas (Setúbal) e falou à plateia dos 3 grandes obstáculos que travam o desenvolvimento da sexualidade nos mais novos: o medo, a ignorância e a vergonha. "Tem-se vergonha do que se tem medo e medo do que não se sabe... É uma espécie de pescadinha de rabo na boca".

Disse que acha que "não devem ser só os professores de Biologia a falarem da sexualidade humana. História, Filosofia, Psicologia, Educação Física... Todas as áreas são fundamentais e complementam-se... O que temos de ter em atenção é que nem todas as pessoas sabem ouvir. E se nos chegar uma aluna que pergunta 'Ó professor, quantos cm mede o útero?' e nós não soubermos, mais vale encaminhar para um técnico que saiba", explicou Paula Peralta, ao mesmo tempo que descreveu o Gabinete de Atendimento aos jovens da sua escola, que acolhe alunos dos 10 aos 18 anos: "A porta nunca está fechada, a mesa é redonda e como o entrar pode ser o maior obstáculo, temos sempre um boião de rebuçados para adoçar os mais corajosos".

Paula Peralta comentou ainda que há uns anos eram as raparigas que mais acudiam ao Gabinete, sendo que agora as coisas estão mais niveladas. "As raparigas têm dúvidas sobre o ciclo menstrual, a gravidez e o sistema reprodutivo. As dúvidas masculinas prendem-se com funcionalidade... São mais tímidos e do género 'dê cá um preservativo que eu já estava de saída'".

Para falar de uma experiência na Área da Sexualidade e dos Afectos, esteve Carla Paixão, psicóloga da Escola ES/3 Romeu Correia (Feijó/Almada). "No nosso Serviço de Psicologia e Orientação (SPO) não temos protocolos, mas temos parceiros e colaboradores, como uma médica e uma enfermeira, cuja cara já se tornou conhecida cá na escola".

A psicóloga falou da 'Semana da Falatoriomania', "uma semana com vários temas, onde os auxiliares da acção educativa são muito importantes e tiveram formação para saber ouvir os alunos e saber encaminhá-los. O encontro passou a chamar-se 'Semana da Saúde', o número de pais presentes foi aumentando, contámos com testemunhos de alunas/mães adolescentes e agora fazemos cafés-concerto, onde participam os filhos, os pais vão vê-los e, ao mesmo tempo, organiza-se em torno duma festa mais ou menos familiar um debate com direito a 'opinário' no fim das sessões, onde podem ser deixadas as dúvidas dos participantes".

Seguiu-se o testemunho de Clara Marques, professora da Escola EB2.3 D. Dinis (Coimbra), que versou sobre 'A participação dos jovens na Educação Sexual em meio escolar'. "Antes de começarmos a verter teoria sobre como se educa para a sexualidade, convém referir que a sexualidade existe muito antes do início das relações sexuais". A professora referiu ainda que na escola onde lecciona a Educação Sexual é abordada sob as mais variadas formas desde o 7º ao 12º ano: No 12º ano, por exemplo, os alunos aproveitam o espaço da Área de Projecto para abordarem este tema, são ainda aproveitados alguns alunos das áreas de Saúde e Biologia e fala-se, sobretudo de reprodução e fertilidade, "há simulações de partos e visitas à Escola Superior de Enfermagem da Universidade de Coimbra - é sempre uma experiência muito engraçada porque os alunos vestem bebés e as raparigas simulam como é estarem grávidas, com barrigas postiças." Nos restantes anos fazem-se trabalhos de grupo sobre o Dia dos Namorados, a violência no namoro, a saúde sexual e reprodutiva (9º ano), a importância dos sentimentos e dos valores (10º ano). "Também promovemos a integração dos alunos que chegam à escola pela primeira vez, fazendo com eles actividades de integração, onde são abordados os conceitos do toque, da confiança e dos estereótipos (11º ano)." A juntar a isto tudo, a escola tem ainda um Clube da Saúde onde promove a educação por pares e trata da temática das doenças sexualmente transmissíveis, por exemplo.

A representar a Escola Secundária Forte da Casa (Vila Franca de Xira), esteve a psicóloga Isabel Carvalho, que falou do Serviço de Psicologia da escola, que conta com um gabinete próprio, "o que se torna muito importante tendo em conta de que estamos a falar de uma escola muito heterogénea, com cerca de 1400 alunos por ano, provenientes de estratos socioeconómicos e com religiões diferentes... Nos 10º e 9º anos CEF assistimos a algumas alunas já grávidas ou com a vida sexual já activa. Além disso, a família monoparental começa a ser a norma, sendo os pais e as mães elementos rotativos".

Leonilde Lemos, professora e psicóloga da Escola Profissional de Torredeita (Viseu) falou da problemática dos pais com pouca escolaridade e do facto de estarmos a falar de "uma escola que fica numa vila onde não há nada para se fazer no chamado tempo livre e onde abunda ainda os mitos estilo 'se estou com a menstruação não posso lavar o cabelo' ou 'se tomar a pílula não vou poder ter filhos nunca'".

A professora falou das experiências que tem ajudado a desenvolver na escola: 'Os jogos de namorar', onde diferentes escolas partilham experiências; as Ligações perigosas', onde os pais dos alunos são envolvidos em palestras e outras actividades e a importância da arte, como forma de chegar aos alunos com mais fraca capacidade de aprendizagem. "A música e o teatro são formas atractivas de chegar até eles. Também fazemos quizzes sobre o que é verdade ou não para eliminar alguns mitos da cabeça deles e houve uma altura em que vestimos os alunos de preservativo e pusemo-los a desfilar na rua e havia o vírus da SIDA que atacava os casais que não estavam vestidos de preservativo", referiu Leonilde Lemos, enquanto explicou ainda que "não podemos esperar sempre que os alunos venham ter connosco: se eu quero conhecê-los, eu vou almoçar com eles, estou com eles, vou para a rua... Não fico sentada no meu gabinete".

Uma ex-aluna da escola, a Filipa, também presente no congresso leu ainda um testemunho onde referia que embora a Escola Profissional de Torredeita fosse uma instituição de ensino conservadora (não se pode mascar pastilha elástica ou usar boné), os alunos são envolvidos nos projectos de Educação Sexual. "Hoje eu sei que a Educação Sexual e o sexo não são um bicho de 7 cabeças", referiu a actual aluna do ensino superior.

Gabinetes de Apoio ao Aluno

Margarida Gaspar de Matos é psicóloga clínica e professora associada e abordou a importância dos Gabinetes de Apoio ao Aluno nas escolas, uma das medidas recomendadas no GTES, do qual foi membro. A profissional sugeriu 10 possíveis passos para a criação de um Gabinete de Apoio ao Aluno e frisou que "este acto tem de envolver professores, pais e alunos, para que depois não cheguem encarregados de educação à escola a dizerem coisas como 'ai eu não deixo a minha filha ir aí, porque parece que dão preservativos'. Envolver os funcionários também é fundamental, porque muitas vezes esquecemo-nos destes profissionais que circulam pela escola e vêem muitas coisas que escapam ao resto da comunidade - eles lidam com os alunos nas cantinas, no bares, no vão das escadas...".

Uma vez criado o gabinete, Margarida Gaspar de Matos diz que não podemos bombardear os adolescentes e jovens com conselhos que só fazem sentido para nós. "Se eles se vão ali abrir sobre temas que para eles podem ser o fim do mundo, do género: 'eu gosto de uma rapariga, mas ela não gosta de mim', não vamos responder 'ai deixa lá, ainda és muito novo' ou 'vais arranjar outra'. Temos de ouvir, ouvir, ouvir e ouvir com respeito".

A encerrar o debate, Daniel Sampaio focou uma das perguntas mais delicadas colocadas por um dos assistentes (sobretudo professores e encarregados de educação), que focava o princípio da confidencialidade: até onde podemos ouvir os alunos sem contar aos pais o que se passa com os filhos? A isso, o médico psiquiatra respondeu que "o princípio da confidencialidade é fundamental e a regra é não contar o que se passa em cada consulta ou conversa com o aluno. Contudo, há algumas excepções - quando há risco de suicídio ou quando existe uma gravidez, por exemplo. O professor não pode carregar sozinho com esse problema. Há que aconselhar o aluno a ser ele contar à família, seja pai, mãe ou irmão... Ou a fazer uma reunião em que eles estejam presentes e seja o professor ou psicólogo a dizer: 'o Zé tem uma coisa para vos dizer'. A partilha com os pais tem de ser estimulada, porque se calhar eles querem contar aos pais, não sabem é como e o nosso papel é ajudá-los".

Daniel Sampaio fez questão ainda de lembrar que, ao contrário do que se diz, "a escola de hoje não está centrada no aluno e temos de admitir, finalmente, que os jovens são capazes de construir a sua própria mensagem - não têm de ser os adultos a fazerem isso. A Educação Sexual não são uns senhores de fato a irem lá à escola darem umas palestras. Este tema não se aborda assim, tem te ser de uma forma que lhes toque".

Publicado em Forum Estudante, 09-04-10
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