terça-feira, 12 de janeiro de 2010

EDUCAR PARA A TOLERÂNCIA E CONVIVÊNCIA EM FAMÍLIA E NA ESCOLA


 O Professor Doutor Américo Peres, num Colóquio subordinado ao tema “Os valores e a cidadania – Educar para a tolerância promove a interculturalidade”, organizado pelo Departamento Curricular do 1.º CEB e pela BE/CRE do Agrupamento Dr. Francisco Gonçalves Carneiro, decorrido no dia 18 de Novembro, no Auditório Municipal de Chaves, num discurso que evidenciou a já sobejamente reconhecida competência quer ao nível da profundidade e da estruturação do pensamento quer enquanto comunicador, apresentou a educação para a tolerância e convivência intercultural como um dos desafios da escola actual, uma escola que se pretende inclusiva, plural, marcada pela igualdade de oportunidades, de acesso e de sucesso. Sublinhou, também, as responsabilidades das famílias nesta aprendizagem do respeito pela diferença, do convívio com outras culturas, outras formas de estar, de ser e de viver, outras sensibilidades e valores.
                Como professora e como mãe e encarregada de educação considero muito pertinente esta abordagem que aposta na complementaridade entre a casa e a escola para a educação e formação dos nossos filhos/educandos. De facto, o Professor Doutor Américo Peres tem toda a razão quando afirma que a educação e formação devem começar no seio da família e ser continuadas pela escola. Nem a família nem a escola podem demitir-se desta importante função.
É fundamental, a meu ver, que se criem espaços de diálogo nas famílias, que se eduquem as novas gerações, que se ensinem as regras mais elementares da educação e o respeito pelo próprio, pelo outro e pelas normas de convívio social. Se um jovem não aprender a respeitar-se e a fazer-se respeitar, é provável que também não respeite o outro. É importante, ainda, que se ensine cada criança a descobrir-se, a conhecer-se e a compreender-se a si próprio, mas também a descobrir, a conhecer e a compreender os colegas, os mais parecidos consigo e os mais diferentes. Respeitar o ser humano, na sua dignidade e idiossincrasia, deve ser uma das prioridades da educação familiar. E aqui integra-se o respeito pelos familiares, pelos vizinhos, pelos colegas e amigos, pelos professores, auxiliares, motoristas de autocarro, etc., etc. E integra-se também, na minha perspectiva, a tão badalada educação sexual. E cabe primeiramente à família esta educação e formação.
Mas nem sempre as famílias têm capacidade para assumir sozinhas a complexa tarefa de educar, de formar, incutindo nos seus filhos o respeito pelos valores inerentes à assunção de uma plena cidadania. Algumas vezes (e julgo que cada vez mais) por falta de disponibilidade de tempo e de predisposição mental, dadas as crescentes exigências de índole laboral em termos de horário e de disponibilidade e dedicação. Estes factores, aliados à abundância de actividades extracurriculares em que as crianças se vêem envolvidas desde tenra idade, contribuem, na minha perspectiva, para aumentar as dificuldades das famílias em assegurar a necessária formação moral e cívica pois os momentos de partilha são cada vez menos e há cada vez mais solicitações aliciantes (a televisão, os jogos de Playstation ou computador, etc.). Outras vezes, porém, as famílias não têm simplesmente capacidade para o fazer, por deficiência de formação, por não terem percorrido um caminho de integração plena, pela interiorização de estereótipos e de complexos de superioridade ou inferioridade, etc.
Caberá, então, à escola complementar essa formação (por vezes contrariando aquisições prévias associadas a racismo, discriminação ou xenofobia, sectarismo e outras, incompatíveis com o exercício da verdadeira cidadania). Ora, a escola foi, durante muito tempo, um lugar predominantemente destinado à transmissão de conteúdos, de saberes. Mais recentemente, exigiu-se-lhe o desenvolvimento de capacidades e competências e a educação para os valores, para uma cidadania responsável e autónoma, crítica e participativa. É mais um desafio que se lança à escola actual. 
Na minha opinião, a escola poderá complementar a educação e formação dos nossos filhos/educandos. Mas não pode pretender-se que ela substitua a família, pelo que urge mentalizar algumas famílias para a assunção desta responsabilidade e ajudar outras a conseguir fazê-lo, em articulação com a escola. Isto constitui um outro argumento de legitimação da pretensão da Direcção do Agrupamento e da Associação de Pais/E.E. de ver colocado um psicólogo a tempo inteiro. Por uma escola verdadeiramente inclusiva e de igualdade de oportunidades no acesso à formação e à informação, por uma escola onde a integração e a inclusão não colidam com a legítima aspiração ao sucesso educativo, pois desta forma não conseguiremos a aceitação da diferença e a tolerância.
Em suma, a escola não pode descurar o ensino e a aquisição de capacidades e competências investindo essencialmente na formação para os valores e a cidadania pois para alguns ela constitui o único local de acesso ao conhecimento científico e às novas tecnologias e os resultados dos testes de literacia têm demonstrado que esta função da escola não tem sido muito bem sucedida. Dotar as escolas de todos os recursos materiais e humanos que lhes permitam responder às diferentes solicitações e necessidades é também um exemplo de respeito pela diferença e um forte incentivo à convivência e à tolerância. É importante que as estruturas do Ministério da Educação compreendam isto.


Manuela Tender
Presidente da Assembleia Geral da Associação de Pais/E.E. do AVFGC e representante dos Pais/E.E. no Conselho Pedagógico
                

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