sexta-feira, 14 de novembro de 2008

OS SETE PECADOS MORTAIS DA MINISTRA DA EDUCAÇÃO

OS SETE PECADOS MORTAIS DA MINISTRA DA EDUCAÇÃO

Chegados ao clímax de incompatibilidade entre a Ministra da Educação e osprofessores, por óbvia culpa da primeira, urge equacionar o que nos parecemser as razões desta cisão irreversível. Abordamo-las de uma forma tipificadaque resulta da contínua e persistente tendência pecaminosa de Maria de Lurdes Rodrigues no que respeita à sua política de Educação. Enunciamos assim aqueles que têm sido os seus recorrentes pecados, embora dificilmente condensáveis em apenas sete:

*A Pesporrência*: no discurso com que se arma quando fala dos professores, como se de seres menores se tratasse, quer do ponto de vista intelectual, quer do ponto de vista profissional. Não se trata uma das classes profissionais mais qualificadas deste país da forma soez como o tem feito, ainda mais se pensarmos que dela depende o futuro deste país. No entanto, apoda-os de desleixados sugadores do Orçamento de Estado e dos preciosos impostos dos Portugueses. Assaca-lhes inteira responsabilidade do estado deplorável a que chegou o ensino nacional.

*A Iluminação*: considera-se a iluminada, qual "cavaleira do futuro", nas palavras de Antero; aquela que vê para além do seu tempo, uma incompreendida, como tantos génios o foram no passado, mas a quem o futuro dará total razão. Esquece-se de dizer que no futuro, quando o resultado das suas políticas de facilitismo e de prémio pela incompetência vier à tona, já estará asilada numa qualquer instituição financeira ou estatal ao abrigo de críticas e imputações de responsabilidade.

*A Presunção*: presume na teoria que é superior àquilo que milhares de professores experimentam na prática diariamente. Se a avaliação é burocrática, os professores não sabem o que estão a fazer; se é infrutífera e não serve para premiar a excelência e a qualidade dos docentes, então as escolas ainda não perceberam o que devem fazer; se é kafquiana e inexequível, os professores desconhecem; se os professores estão contra este modelo de avaliação, é porque não querem ser avaliados de modo algum. Pobres docentes, não sabem, não percebem, desconhecem. Obviamente, já todo o país percebeu quem ignora e quem está completamente isolada, a falar para o seu umbigo.

*A Estatísticolatria*: nunca como neste governo a política educativa obedeceu a um, e a só um objectivo: apresentar sucesso estatístico. Para isso, recorre-se às medidas mais inusitadas com laivos de maquiavelismo deque há memória nos últimos tempos: fazem-se exames de Matemática ridiculamente fáceis; despenalizam-se os erros ortográficos nas provas de Língua Portuguesa do 9º Ano; e, sobretudo, congemina-se um modelo de avaliação que incorpora uma forma velada de burla aos docentes: elevem as notas dos alunos e nós dar-vos-emos mais uns euros ao final do mês. E assim se dá a ideia de que o ónus do sucesso dos alunos cabe inteiramente ao professor, de que os alunos são todos iguais, de que o grau de dificuldadedas matérias nos diversos anos de escolaridade é imutável. Tudo isto ao serviço da estatística, nunca da qualidade das aprendizagens, porque o que interessa é o cumprimento cego das metas da O.C.D.E. para gáudio dos nossos governantes.

*A Ignorância*: demonstrou nas suas palavras após a manifestação de 8 deNovembro que desconhece a mais basilar cultura democrática ao apodar aquele gigantesco movimento de indignação docente como uma intimidação. Não era esse certamente o propósito dos professores para com a Sra Ministra, mas estes inquestionavelmente não se sentirão intimidados pelo tom salazarento do seu discurso. Desconhece assim que a manifestações de rua são normais e merecedoras de respeito em qualquer democracia sólida e em pelo funcionamento.

*A Misantropia*: a Srª Ministra desconhece o que é uma escola. Poucas visita, e quando o faz é durante o tempo de aulas, fora dos intervalos, para não ser importunada por um qualquer docente que a venha confrontar com a realidade. Pensa que avaliar uma escola é o mesmo que avaliar uma empresa, como se nas escolas se produzissem carros ou presuntos. Cada vez mais isolada, disfarça com um sorrido trémulo mas algo cínico, um discurso que em tudo nos recorda, a figura patética do ministro iraquiano da informação que quando tudo estava irremediavelmente perdido, ainda se iludia com a vitória.

*A Inverdade*: compulsivamente, falta à verdade num discurso demagógico,populista, sempre evocando o superior interesse do Estado. Não é verdade que a avaliação docente seja apenas a produção de duas folhas que se fazem em duas míseras horas; começa sim pela produção de duas folhas, mas que resultam de horas e horas de aturada preparação, de leitura e consulta de legislação e documentos internos de infindáveis e estéreis reuniões e de uma profunda reflexão prévia; não é verdade que os avaliadores sejam os mais capazes de avaliar os restantes professores, quando nunca foram sujeitos a este modelo de avaliação, quando muitos nem são da área científica dos avaliados ou só porque a idade é sinónimo de sabedoria. Falta à verdade, conscientemente, quando diz com alarde que os professores não querem ser avaliados, quando o que eles não querem é este modelo de avaliação; falta à verdade quando diz que este modelo promove a qualidade e a excelência, por isso foi decalcado de um país modelar ao nível de sistema de ensino: o Chile; falta à verdade quando diz que houve negociação deste modelo de avaliação com os professores, quando o que houve foi uma imposição superior e em que a única alteração à proposta inicial foi a passagem da avaliação dos pais dos alunos de obrigatória para opcional, de acordo com a vontade do professor; ignora a verdade quando insiste que a avaliação está a decorrer normalmente nas escolas, quando está definitivamente suspensa na grande maioria dos estabelecimentos de ensino; falta à verdade quando invoca o interesse dos professores que querem este modelo de avaliação, quando ficou demonstrado à sociedade que a esmagadora maioria não o quer.

Em conclusão, o que fizemos no dia 8 de Novembro, foi um direito inalienável dos cidadãos em democracia, o direito à indignação e o direito de resistência à opressão. Em face do comportamento assumido pela Sr.a Ministra, parafraseando o imperador da literatura portuguesa, "não hei-de pedir pedindo, senão protestando e argumentando; pois esta é a licença e liberdade de quem não pede favor, senão justiça". A causa não é só nossa, é dos nossos filhos, alunos e do nosso país, pelo que "razão é que peça só razão, justo é que peça só justiça" (Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as da Holanda).

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