quarta-feira, 24 de junho de 2009


Conferência Contextos Sociais e Políticas Educativas


O ex-ministro da Educação, David Justino, defendeu, na conferência promovida pela CONFAP, que “o aumento da escolarização para os 12 anos tem que ser ponderado numa articulação muito estreita com a legislação do trabalho”.

Na conferência, realizada no Europarque, em Santa Maria da Feira, promovida pela Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP) e pela FapFeira, David Justino afirmou que só assim se poderá sair “ciclo vicioso” em que se encontra a maioria da população activa portuguesa.

“O abandono escolar leva à inserção precoce no mercado de trabalho e essa, porque implica qualificações reduzidas, envolve níveis mais baixos de remuneração”, explicou o actual assessor da Casa Civil do Presidente da República. “É um ciclo vicioso e há um número elevadíssimo de portugueses que estão nessa situação”.

A mudança que a escolaridade obrigatória de 12 anos “implica nesta estrutura da população activa vai demorar não anos mas décadas”, continua David Justino. “Se o aumento da escolarização é tão urgente é porque cada ano que nos atrasamos se traduz em milhares de portugueses que não conseguem sair desse ciclo vicioso do atraso”.

O ex-ministro da Educação rejeita, contudo, a ideia generalizada de que o abandono e o insucesso escolar sejam inevitáveis em crianças provenientes de agregados com “baixo capital familiar - económico ou social”.

Nesse contexto, referiu o exemplo “surpreendente” das sociedades asiáticas, onde casos de grande sucesso profissional têm muitas vezes origem em situações de pobreza.

“A questão é que a quantidade e a qualidade do trabalho que esses miúdos têm na escola não tem qualquer comparação com a dos estudantes americanos e europeus”, explica David Justino. “São sociedades que sempre estiveram muito orientadas para o princípio de é preciso muito trabalho para ter sucesso”.

Em Portugal, contudo, “a imagem social do ensino sempre foi muito associada à ideia de que o secundário é uma preparação para o ensino superior”.

Lembrando que já antes propôs a reorganização dos ciclos, David Justino sugere: “O 3.º Ciclo tem que se aproximar mais do secundário. Não pode ser um prolongamento do básico, como é agora, (..) e a perspectiva de conferir competências mais profissionalizantes devia ser acentuada”.

Se a escolaridade obrigatória de 12 anos vai ter efeitos “daqui a 10 ou 12 anos, não interessa”, diz o ex-ministro. “É preciso levar as pessoas a pensarem que, daqui a alguns anos, ter o 9.º ano não serve para nada (…) e o que conta é fazer com que elas comecem agora a elevar as suas expectativas”.

Agência Lusa - 20. Junho. 2009

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