A Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) é uma disciplina fundamental para a educação integral dos alunos. Nesta edição, o director e um professor de uma escola pública de Alverca dão a sua visão sobre os (bons) motivos para inscrever os filhos em EMRC. O director da Escola Básica 1.2.3 do Bom Sucesso, em Alverca do Ribatejo, não dispensa a leccionação da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica na sua escola. A explicação é simples: neste estabelecimento de ensino há uma preocupação pela educação integral do aluno. “A leccionação da disciplina de EMRC tem que ver com uma componente de desenvolvimento pessoal e social em termos globais. E na perspectiva da formação do aluno enquanto cidadão pleno, parece-nos importante a existência de uma disciplina do âmbito da moral”, salienta Carlos Reis. Para o director da escola, esta é uma área fundamental, à qual todos os alunos têm direito a ter acesso: “É tão importante para o currículo como qualquer outra disciplina, e é relevante na perspectiva de aliar a formação cívica a uma formação mais espiritual”. Nesta escola junto a Lisboa, a disciplina de EMRC é leccionada no 1º, 2º e 3º ciclo. “Temos uma enorme implantação no 1º ciclo, sendo que no 3º ciclo há apenas uma turma”. Não sendo uma cadeira obrigatória, torna-se mais difícil fazer a gestão dos horários. “Ao nível do 1º Ciclo tentamos sempre que constitua uma 26ª hora, integrando esta componente na extensão de horário, em integração com as actividades de enriquecimento curricular”, salienta o director, sublinhando o esforço da escola em que a EMRC fique colada às outras disciplinas para que os alunos não tenham de vir à escola de propósito só por esta cadeira. Miguel Dantas, de 38 anos, é o único professor de Educação Moral e Religiosa Católica da escola. A seu cargo tem cerca de 250 alunos. Do universo de alunos matriculados na escola, este dado representa cerca de 30% de alunos inscritos em EMRC. Número que está de acordo com a percentagem de alunos de EMRC em todas as escolas situadas no Patriarcado de Lisboa (ver caixa). Para este professor, que lecciona há 11 anos, a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) é fundamental na formação das crianças e jovens: “A formação integral do aluno é humana, espiritual, intelectual, física. E dentro da formação espiritual claramente se enquadra a disciplina de EMRC”. Falando de muitas forças políticas, e até legais, que vão tentando puxar a disciplina para ‘parente pobre’ do espaço da educação, o professor Miguel destaca as vantagens da sua disciplina: “No terreno concreto, e esta escola é um exemplo disso, as pessoas, os professores e até mesmo os directores de turma percebem o impacto que a disciplina de EMRC acaba por ter nos alunos e o contributo que ela dá à escola”.
EMRC e catequese: dois espaços distintos, que se complementam É uma ‘batalha’ que tem sido travada, desde há vários anos, por toda a Igreja. Bispos, padres e educadores procuram, de todas as formas, fazer a distinção da Educação Moral e Religiosa Católica com a Catequese. Miguel Dantas lamenta a confusão que há entre a EMRC e catequese e fala da oportunidade de evangelização que a sua cadeira oferece. “São dois espaços distintos, que se complementam. Acredito que dentro daquilo que é a missão da Igreja, este espaço da EMRC é uma riqueza, é uma forma nova de fazer evangelização”. Miguel Dantas sabe também que este trabalho de evangelização pode não ser suficiente para comprometer as crianças e os jovens com a Igreja Católica. “Tenho de ter a noção, como profissional e também como agente de pastoral, que os miúdos que eu vou ter à minha frente podem não estar comprometidos com nenhuma confissão religiosa”. Miguel sublinha que, enquanto professor, não é sua intenção impor nada aos alunos: “Pelo conhecimento que eles vão tendo, o importante é os alunos terem as bases para depois tomarem a sua decisão, que deverá ser minimamente discernida”. Sobre a ‘desculpa’ de alguns pais que não inscrevem os seus filhos em EMRC porque já está na catequese, Miguel acredita ser este um problema de informação dos encarregados de educação. “Isto é um problema de formação, que temos que conseguir ultrapassar. As pessoas têm de perceber que EMRC e catequese são dois espaços diferentes”.
“O Estado tem que olhar para a Igreja como um parceiro educativo” Um professor de Educação Moral e Religiosa Católica é um docente com os mesmos direitos e deveres de qualquer outro professor de outra disciplina. “Temos de assumir a nossa igualdade perante os outros professores., não deixando que os outros docentes ostracizem a nossa função como professores”, aponta Miguel Dantas. Também em termos institucionais, sobretudo ao nível do Ministério da Educação, os professores de EMRC reclamam do mesmo tratamento de igualdade em relação a qualquer outro docente. Da mesma forma, para este professor, a Igreja não pode ter medo de assumir a sua igualdade perante o Estado. “Nós não estamos aqui para fazer guerra. Nós somos parceiros educativos e portanto o Estado tem que olhar para a Igreja como um parceiro, não como uma oposição”. Lembrando a função social da Igreja, este docente reclama que “essa função social deve ser espelhada na escola”. Dentro do espaço da sala de aula, o professor Miguel Dantas é muitas vezes confrontado pelos alunos para dar o seu testemunho de vida. “Quando me dizem ‘o que é que o professor acha’, obviamente apresento a minha perspectiva católica e cristã”, garante.
Interpretar a realidade humana através da mensagem de Jesus Quando chegou à Escola Básica 1.2.3 do Bom Sucesso, em Alverca do Ribatejo, há 11 anos atrás, Miguel tinha apenas três turmas. Hoje tem 19. A criatividade deste professor é um dos argumentos que explica a subida no número de inscrições em EMRC. Mas não é único. “A cadeira vale por si só, pelas temáticas que aborda no programa, que é muito válido. Mas claro que os métodos e os meios que utilizamos, como as novas tecnologias, fascinam os miúdos”, explica. A preparação das aulas, o chamado ‘trabalho de casa do professor’, ganha por isso contornos decisivos para o interesse dos alunos pela disciplina. Por ter uma experiência muito forte ao nível do escutismo, Miguel Dantas utiliza a metodologia escutista dentro da sala de aula. “Faço grupos, equipas, crio jogos fora do espaço da sala de aula e procuro criar espírito competitivo”, refere este professor de EMRC, sublinhando que esta forma de dar aulas “cria um espírito muito bom de participação na sala de aula”. A figura de Jesus é central na mensagem que é transmitida aos alunos de Moral. “Essa é uma das vantagens que temos em relação às outras disciplinas. Em EMRC temos um elo aglutinador, que é Cristo”, admite o professor Miguel. As aulas partem sempre da realidade humana. Os professores de EMRC utilizam depois a mensagem de Jesus para interpretar a realidade humana e procuram que os alunos cheguem a um compromisso concreto na localidade.
O salto qualitativo dos novos manuais Nos últimos anos, o Secretariado Nacional de Educação Cristã apostou na elaboração de novos manuais para a disciplina de EMRC. Miguel Dantas considera que foi dado um salto qualitativo muito grande com os novos manuais. “Foi um avanço significativo, quer nos novos temas inseridos no programa, quer naqueles que já lá estavam e que foram melhorados”. Há também um aspecto muito importante, ao nível da continuidade. “Há temas que se abordam no 5º ano de uma forma inicial, voltam-se a abordar no 6º ano de uma forma mais aprofundada e até ao 9º ano há temas que os alunos vão abordar todos os anos”, explica. Este professor destaca também o nível gráfico e de imagem dos novos manuais da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica. “Se os pais perceberem que a EMRC é uma disciplina que completa claramente a formação dos alunos, não vão ter dúvidas em inscrever os seus filhos”, sentencia o professor Miguel Dantas.
Campanha pela inscrição em EMRC Em final de ano escolar, o Secretariado Nacional de Educação Cristã dirige-se aos educadores mostrando a actualidade da disciplina de EMRC. “A disciplina é um espaço educativo de grande interesse para o seu filho/educando”, refere um prospecto dirigido aos pais e encarregados de educação. Numa campanha que pretende relançar a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica nas escolas, o secretariado evidencia razões humanas, éticas, de diálogo entre ciência e religião, de livre escolha da educação que os pais devem dar aos filhos, como motivos para “uma autêntica educação integral”. O prospecto apresenta ainda os novos manuais disponíveis e adaptados a cada etapa do aluno.
Estatísticas 2006/2007 das escolas do Patriarcado de Lisboa*
* últimos dados disponíveis Diogo Paiva Brandão |
-
Sem comentários:
Enviar um comentário