sexta-feira, 26 de março de 2010


 
                                     VIOLÊNCIA ESCOLAR

Sou avô de dois netos e pai de duas filhas, pertencendo aquilo a que se convencionou chamar de família tradicional. Tenho estado ligado ao longo da vida ao sistema educativo através das várias instituições em que tenho participado (professor, membro de associações de pais, de ONG(s) ligadas aos direitos humanos e de cidadania, administrador de instância extrajudicial de resolução de conflitos, etc...), e fiquei preocupado com o centrar da culpabilidade da violência escolar nas crianças.

Da minha experiência retiro a convicção de que as crianças são as menos culpadas, já que antes temos de averiguar qual a responsabilidade da sociedade no seu todo (responsáveis políticos, pais, familiares e professores).

E os exemplos que estão por todo o lado destas entidades não são os mais recomendáveis. Como podemos exigir das crianças respeito pelos colegas e pelos professores se os membros dessas instituições da comunidade se insultam, caluniam e agridem impunemente, sendo um mau exemplo de cidadania? Como podemos querer que as nossas crianças se pautem pelo respeito de valores éticos e comportamentais se aquilo que vêem nos adultos com responsabilidades é o contrário do que lhes é exigido? Como queremos que as crianças respeitem os professores se aquilo que vimos nos últimos anos nas relações entre estes e o Governo foi o que se pode dizer de mais anti-pedagógico e não fomentador dum clima de paz, civismo e concórdia?
É urgente respeitar as crianças e não lhes imputar culpas que são mais exigíveis aos adultos. O estatuto do aluno não deve ser alterado retirando aquilo que defende as crianças. Não é o estatuto do aluno que está errado. O que está errado são os maus exemplos dados pelos adultos, havendo que responsabilizar os pais e os professores pela sua incompetência e irresponsabilidade.
As crianças são o elo mais fraco da cadeia até porque não têm voz audível, não votam, nem podem ameaçar fazer greve. Querer agora colocá-las ao nível dos criminosos mais graves, atribuindo o estatuto de crime público às reacções das crianças em meio escolar é uma violência e uma desproporcionalidade que me choca. Além de ser uma forma de admissibilidade de fraqueza por parte dos professores, inadmissível em quem quer ser responsável pela nobre tarefa de participar na educação de crianças.
Porque estamos obrigados a respeitar a Convenção dos Direitos da Criança (Portugal é Estado-Parte), tenhamos cuidado na fragilização da condição das crianças.
É arrepiante que as crianças, quando ouvem os noticiários, sintam que os responsáveis políticos as estão a culpar por coisas cuja responsabilidade é, em muito maior grau, de quem as culpa.
Estou ao dispor de V. Exª. para testemunhar com exemplos concretos o que atrás exponho.
Com os meus respeitosos cumprimentos
             Hipólito Almeida dos Santos
 
  

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