Pais pedem criação de «estruturas alternativas» para ocupar os filhos
Redacção / Paula Lagarto para Lusa 27/03/2009
Quando as escolas fecham, os pais abrem os cordões à bolsa. Sem «estruturas alternativas», a maioria dos pais do milhão e meio de estudantes que esta sexta-feira começam as férias da Páscoa enviam os filhos para casa dos avós ou inscrevem-nos em actividades que podem chegar aos 300 euros semanais. As férias são «um problema estrutural» que «não tem uma solução sistémica», já que depende dos apoios que cada família tem e da idade e do ciclo de ensino em que estão as crianças, afirma a socióloga Maria das Dores Guerreiro, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), e especialista na relação entre vida profissional e familiar.
«Remeter, o problema, para os pais»
«Devia haver uma estrutura alternativa que estivesse pensada, porque creio que a grande questão, e que devia deixar de acontecer, é remeter [o problema] para os pais como [se fosse] um problema individual», considera. Apesar de serem um problema, as férias «são uma realidade e uma necessidade», pelo que é necessário pensar «soluções em parceria, e logo num primeiro momento, com a escola», defende Maria das Dores Guerreiro. A especialista sublinha que a «escola sozinha não pode dar resposta a tudo» e por isso é preciso relacionar toda a comunidade, incluindo o mercado privado. Férias «não são função da escola» O vice-presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), António Amaral, concorda que as actividades para as férias «não são uma função da escola»: «Devia haver alternativas na comunidade educativa, num trabalho de parceria entre pais, escola e autarquias», defende, destacando que há já «bons exemplos» de respostas em associações de pais e autarquias. Segundo este responsável, as maiores dificuldades estão no segundo e terceiro ciclo de ensino básico, quando as crianças têm entre seis e 15 anos.
Pais tiram férias ou recorrem aos avós Quando as escolas encerram, os pais tiram alguns dias de férias, recorrem a avós e a entidades privadas ou públicas para evitar que os filhos fiquem sozinhos em casa à «guarda» dos jogos electrónicos ou da televisão. E em almoços e actividades extra, os pais chegam a gastar 300 euros por semana.
A factura é tão elevada por não serem a «comunidade e o Estado a assumir» as opções, mas sim o mercado: «As poucas ofertas que há estão no sector privado e a preços incomportáveis», realça a socióloga Maria das Dores Guerreiro, para quem as férias escolares podem até ser um motor da economia. Lacuna na oferta «Podíamos explorar melhor na nossa sociedade as necessidades que as crianças e as famílias têm e que não estão preenchidas. Há uma lacuna na oferta de serviços, que podia ser proporcionadora de emprego, de mais desenvolvimento e algum estímulo da actividade económica se tivéssemos actividades concertadas», defende. E uma disponibilização «massiva» de serviços associada a uma grande procura faria baixar os preços, considera. António Amaral confirma que a oferta existente para as férias «está longe de ser suficiente» e é «maioritariamente privada e paga-se»: «Neste momento, as famílias não estão com muitos recursos para isso e têm de fazer enormes sacrifícios. E a maioria já o faz».
in IOL diário
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